No ambiente de negócios atual, caracterizado por complexidade crescente e rápida evolução, a gestão eficaz de riscos é essencial para a sustentabilidade e o sucesso das empresas. Com o objetivo de entender as incertezas associadas aos principais fatores de risco das empresas cotadas em bolsa no Brasil, analisamos o estudo Gerenciamento de Riscos: os principais fatores de risco divulgados pelas empresas abertas brasileiras 2024 (9ª edição), desenvolvido pela ACI Institute, vinculado à KPMG. Este estudo detalhado analisa os principais desafios enfrentados pelas organizações cotadas na bolsa brasileira e oferece insights valiosos para a gestão desses riscos.
Este artigo desenvolvido pela Plataforma t-Risk, com base na 9ª edição do estudo da ACI Institute, busca ajudar nossos clientes a refletirem sobre suas incertezas e a implementarem estratégias robustas de gestão de riscos. Independentemente de estarem cotadas na bolsa de valores ou não, empresas de diversos setores da economia podem se beneficiar dos aprendizados apresentados pela ACI - KPMG. A análise dos riscos financeiros e de caixa, das condições políticas e econômicas, dos riscos operacionais, dos riscos relacionados à segurança cibernética e dos riscos associados à execução da estratégia de negócios fornece um panorama abrangente e aplicável a diferentes contextos empresariais.
Além disso, discutiremos a importância da adoção das normas ISO 31000 e ISO 31050 para a gestão de riscos tradicionais e emergentes, respectivamente, e o papel crítico das tecnologias avançadas nesse processo. Ao explorar essas questões, pretendemos fornecer uma base sólida para que as empresas possam aprimorar suas estratégias de gestão de riscos, fortalecendo sua resiliência e capacidade de adaptação em um ambiente de negócios cada vez mais desafiador.
O ACI Institute é uma referência global em fornecer insights, orientação e ferramentas práticas para ajudar empresas a enfrentar os desafios contemporâneos em um ambiente de negócios cada vez mais complexo e dinâmico. O principal objetivo do estudo foi identificar e analisar os principais fatores de risco que as empresas enfrentam atualmente. O ACI Institute buscou compreender como as organizações estão lidando com esses riscos e quais estratégias estão sendo implementadas para mitigar as incertezas que podem impactar seus objetivos e operações. Para mais detalhes, recomenda-se a leitura completa do estudo para entender os riscos mais citados pelas empresas em cada setor de negócios.
Os 25 fatores de risco mais citados no estudo são:
1. Riscos regulatórios (95%)
2. Riscos operacionais (93%)
3. Condições políticas, econômicas e de mercado (92%)
4. Riscos financeiros e de caixa (91%)
5. Riscos aos acionistas (90%)
6. Riscos jurídicos (89%)
7. Riscos socioambientais (89%)
8. Riscos associados à execução da estratégia de negócios e/ou plano de investimentos (88%)
9. Riscos associados ao capital humano (83%)
10. Concorrência (80%)
11. Riscos relacionados à segurança cibernética (79%)
12. Riscos associados à atuação do acionista controlador (79%)
13. Condições políticas, econômicas e de mercado internacionais*(73%)
14. Riscos de governança inefetiva (72%)
15. Riscos tributários (70%)
16. Riscos associados à ação da natureza (70%)
17. Riscos associados à marca e à reputação da companhia ou do setor (69%)
18. Risco de insuficiência do valor e/ou cobertura dos seguros contratados (67%)
19. Riscos associados aos gestores (decisão, sucessão) (67%)
20. Risco de inadimplência (66%)
21. Covid-19, pandemias e saúde pública (66%)
22. Riscos associados às subsidiárias, controladas ou investidas (65%)
23. Riscos associados à dependência com relação a fornecedores (65%)
24. Risco de condutas ilícitas, como fraude, corrupção ou suborno (61%)
25. Risco de mudança nas políticas governamentais sobre o setor (61%)
Esses fatores foram identificados e classificados a partir dos formulários de referência das empresas analisadas, refletindo as principais preocupações e áreas de risco que as empresas enfrentam em suas operações.
Figura 1 - Estudo de Gerenciamento de Riscos foi conduzido pelo ACI Institute.
I. Características comuns dos fatores de risco citados no estudo
Os 25 fatores de risco mais citados no estudo compartilham várias características que ajudam a explicar por que são frequentemente mencionados pelas empresas. Aqui estão algumas razões comuns que identificamos:
1. Impacto significativo nas operações e finanças: Esses riscos têm o potencial de afetar gravemente as operações diárias e a saúde financeira das empresas. Por exemplo, riscos regulatórios, operacionais e financeiros podem levar a grandes perdas financeiras e interrupções operacionais.
2. Complexidade e incerteza: Muitos desses riscos, como condições políticas, econômicas e de mercado, são complexos e envolvem um alto grau de incerteza. Isso torna difícil prever e gerenciar esses riscos de maneira eficaz.
3. Regulamentação e conformidade: Riscos regulatórios, jurídicos e tributários estão relacionados às exigências de conformidade legal e regulatória. A não conformidade pode resultar em penalidades severas, litígios e danos à reputação.
4. Mudanças no ambiente externo: Fatores como condições políticas e econômicas internacionais, mudanças nas políticas governamentais e concorrência são influenciados por mudanças no ambiente externo que estão fora do controle direto das empresas.
5. Reputação e imagem: Riscos associados à marca e à reputação, bem como riscos de condutas ilícitas, têm um impacto direto na percepção pública e na confiança dos stakeholders. Um escândalo ou má gestão pode danificar irreparavelmente a reputação de uma empresa.
6. Tecnologia e segurança: Riscos relacionados à segurança cibernética e pandemias, como a Covid-19, destacam a importância da resiliência tecnológica e da capacidade de resposta a crises de saúde pública.
7. Dependência e relacionamentos: Riscos associados à dependência de fornecedores e à atuação de acionistas controladores refletem a importância das relações externas e das parcerias estratégicas para a operação bem-sucedida de uma empresa.
8. Gestão interna e capital humano: Riscos de governança inefetiva, associados aos gestores e ao capital humano, destacam a importância de uma gestão eficaz e de uma força de trabalho qualificada e comprometida.
9. Natureza e sustentabilidade: Riscos socioambientais e relacionados à ação da natureza mostram a crescente preocupação com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental.
10. Inovação e competitividade: A necessidade de inovação constante para permanecer competitivo no mercado, bem como a melhoria contínua e a otimização de recursos, são fatores críticos que as empresas precisam gerenciar ativamente.
Esses riscos são abrangentes e afetam vários aspectos da operação de uma organização, desde a conformidade legal até a reputação e a competitividade no mercado. As empresas os citam frequentemente devido ao seu potencial impacto significativo e à necessidade de uma gestão proativa e eficaz para garantir a resiliência e o sucesso no longo prazo.
II. Principais fatores de risco e suas incertezas
Analisamos e tentamos entender melhor os cinco principais fatores de risco divulgados pelas empresas abertas brasileiras e, principalmente, quais são as incertezas relacionadas a esses fatores de riscos que os tornaram tão críticos.
1. Riscos financeiros e de caixa - incertezas:
- Liquidez: A capacidade da empresa de cumprir suas obrigações financeiras no curto prazo pode ser comprometida por flutuações no fluxo de caixa.
- Endividamento: Níveis elevados de endividamento aumentam o risco de inadimplência e podem limitar a capacidade de investimento e crescimento.
- Volatilidade cambial: A exposição a variações nas taxas de câmbio pode impactar negativamente os resultados financeiros, especialmente para empresas que operam internacionalmente.
- Custo de capital: Alterações nas condições do mercado de crédito podem aumentar os custos de financiamento, dificultando a obtenção de capital a taxas favoráveis.
2. Condições políticas, econômicas e de mercado - incertezas:
- Instabilidade econômica: Flutuações econômicas, como recessões ou períodos de crescimento econômico lento, podem reduzir a demanda por produtos e serviços.
- Políticas governamentais: Mudanças nas políticas fiscais, tarifárias e regulatórias podem impactar os custos operacionais e a competitividade das empresas.
- Risco político: Instabilidade política, como mudanças de governo ou políticas públicas voláteis, pode criar um ambiente de negócios incerto e imprevisível.
- Mercados internacionais: Variações nas condições econômicas globais, como crises financeiras em outros países, podem afetar negativamente as exportações e os investimentos estrangeiros.
3. Riscos operacionais - incertezas:
- Interrupções na cadeia de suprimentos: Problemas na cadeia de suprimentos, como escassez de materiais ou atrasos na entrega, podem interromper a produção e aumentar os custos.
- Falhas de processos: Ineficiências e falhas nos processos internos podem levar a aumentos de custos, perda de produtividade e comprometer a qualidade dos produtos e serviços.
- Desastres naturais: Eventos como terremotos, enchentes e outros desastres naturais podem causar interrupções significativas nas operações e danos aos ativos físicos.
- Manutenção de infraestrutura: A falta de manutenção adequada da infraestrutura pode resultar em falhas de equipamentos e sistemas críticos, afetando a continuidade das operações.
4. Riscos relacionados à segurança cibernética - incertezas:
- Ameaças de hacker: Ataques cibernéticos podem comprometer dados sensíveis, interromper operações e causar danos financeiros significativos.
- Vulnerabilidades de sistema: Sistemas de TI desatualizados ou mal configurados podem ser explorados por criminosos cibernéticos, expondo a empresa a riscos de segurança.
- Conformidade com regulamentações: Falhas em cumprir regulamentações de proteção de dados, como a LGPD, podem resultar em multas pesadas e danos à reputação.
- Cultura de segurança: A falta de uma cultura robusta de segurança cibernética entre os funcionários pode aumentar a vulnerabilidade a ataques e incidentes cibernéticos.
5. Riscos associados à execução da estratégia de negócios e/ou plano de investimentos - incertezas:
- Alocação de recursos: Decisões inadequadas na alocação de recursos financeiros e humanos podem comprometer a execução eficaz da estratégia empresarial.
- Mudanças de mercado: Alterações nas condições de mercado podem tornar as estratégias e planos de investimento obsoletos, exigindo ajustes rápidos.
- Gestão de projetos: A ineficiência na gestão de projetos pode levar a atrasos, aumento de custos e falhas na entrega dos resultados esperados.
- Acompanhamento e ajustes: A falta de monitoramento contínuo e ajustes necessários nos planos estratégicos pode resultar em perda de competitividade e fracasso em atingir os objetivos de longo prazo.
Esses fatores de risco são críticos porque têm o potencial de impactar significativamente as operações, a lucratividade e a sustentabilidade a longo prazo das empresas. A capacidade de gerenciar esses riscos de forma eficaz é essencial para a resiliência e o sucesso contínuo das organizações.
Figura 2 - Cada organização deve definir seu apetite a riscos de forma embasada. Foto: Bob Shrader
III. Características das empresas suscetíveis aos principais fatores de risco
As empresas citadas no estudo compartilham várias características em comum que as tornam suscetíveis aos principais fatores de risco identificados. Essas características incluem:
1. Ambiente econômico e competitivo global
- Operação em mercados globais: Muitas dessas empresas operam em diversos mercados ao redor do mundo, o que as expõe a mudanças nas condições econômicas globais e variações cambiais.
- Competição internacional: A presença em mercados globais aumenta a concorrência, especialmente com a entrada de novos concorrentes e inovação tecnológica.
2. Dependência de inovação e tecnologia
- Investimento em tecnologia: Empresas citadas no estudo dependem fortemente de inovação tecnológica para manter a competitividade e relevância no mercado.
- Rápida evolução tecnológica: Elas precisam se adaptar rapidamente às mudanças tecnológicas para não se tornarem obsoletas.
3. Conformidade regulatória e governança
- Altamente regulamentadas: Estas empresas operam em setores que são altamente regulamentados, como financeiro, saúde, energia e tecnologia, tornando-as vulneráveis a mudanças nas regulamentações.
- Conformidade rigorosa: A necessidade de conformidade com diversas regulamentações locais e internacionais impõe desafios operacionais e de governança.
4. Complexidade operacional
- Cadeias de suprimento complexas: Muitas dessas empresas têm cadeias de suprimento complexas e globais, o que as torna vulneráveis a interrupções e riscos operacionais.
- Diversificação de produtos e serviços: A oferta diversificada de produtos e serviços requer gestão eficiente e controle rigoroso para mitigar riscos.
5. Foco em sustentabilidade e responsabilidade social
- Pressão por sustentabilidade: Há uma pressão crescente para que essas empresas adotem práticas sustentáveis e demonstrem responsabilidade social corporativa.
- Expectativas dos stakeholders: Os stakeholders (investidores, clientes, reguladores) têm expectativas altas em relação à sustentabilidade e práticas éticas das empresas.
6. Exposição a riscos financeiros
- Volatilidade financeira:*As empresas citadas enfrentam riscos financeiros significativos, incluindo volatilidade no mercado de ações, taxas de juros e flutuações cambiais.
- Necessidade de financiamento: A necessidade de financiamento contínuo para inovação, expansão e operações diárias as expõe a mudanças nas condições de crédito e financiamento.
7. Gestão de talentos
- Retenção e atração de talentos: A capacidade de atrair e reter talentos é crítica, especialmente em setores de alta tecnologia e inovação.
- Desenvolvimento de competências: A necessidade de desenvolver competências internas para acompanhar as mudanças tecnológicas e regulatórias é uma preocupação constante.
8. Foco em experiência do cliente
- Expectativas elevadas dos clientes: As empresas precisam atender às crescentes expectativas dos clientes em termos de qualidade, inovação e serviço.
- Satisfação e fidelização do cliente: Manter a satisfação e fidelidade dos clientes é crucial para o sucesso a longo prazo.
Essas características comuns destacam a necessidade de uma gestão de riscos robusta e proativa para mitigar os impactos desses fatores de risco e garantir a sustentabilidade e competitividade das empresas.
IV. Entenda como os fatores de riscos citados no estudo podem impactar empresas brasileiros não cotadas em bolsa de valores
Os fatores de riscos identificados no estudo podem impactar empresas de diferentes setores da economia brasileira, independentemente do seu grupo econômico específico. Abaixo estão alguns exemplos de como esses riscos podem afetar empresas em vários setores:
1. Ambiente econômico e competitivo global
- Indústria de manufatura: A variação cambial e as mudanças nas condições econômicas globais podem afetar os custos de importação de matérias-primas e a competitividade dos produtos exportados.
- Setor de alimentos e bebidas: Flutuações nos preços das commodities agrícolas e instabilidade econômica global podem influenciar os custos de produção e a demanda por produtos.
2. Dependência de inovação e tecnologia
- Setor de telecomunicações: A rápida evolução tecnológica exige investimentos contínuos em novas tecnologias e infraestrutura, além de enfrentar a concorrência de empresas mais inovadoras.
- Saúde: A inovação em biotecnologia e telemedicina requer investimentos constantes, e a falha em acompanhar essas inovações pode levar à perda de competitividade.
3. Conformidade regulatória e governança
- Setor financeiro: Mudanças nas regulamentações financeiras e bancárias podem impactar a conformidade e a operação de bancos e instituições financeiras.
- Energia e petróleo: A conformidade com regulamentações ambientais e de segurança é crucial, e mudanças nas leis podem afetar diretamente a operação e os custos.
4. Complexidade operacional
- Varejo: Cadeias de suprimento globais complexas podem sofrer interrupções devido a desastres naturais, pandemias ou crises políticas, afetando a disponibilidade de produtos.
- Construção: Projetos de construção de grande escala dependem de uma logística complexa e podem ser impactados por atrasos na entrega de materiais ou problemas com fornecedores.
5. Foco em sustentabilidade e responsabilidade social
- Indústria automotiva: A pressão por veículos mais sustentáveis e regulamentações ambientais rigorosas exigem que as empresas invistam em tecnologias limpas e práticas sustentáveis.
- Setor de moda: A demanda por práticas de produção ética e sustentável está aumentando, e as empresas precisam adaptar suas operações para atender a essas expectativas.
6. Exposição a riscos financeiros
- Imobiliário: A volatilidade das taxas de juros e as condições de crédito podem afetar o financiamento de novos projetos e a demanda por imóveis.
- Turismo e hotelaria: Flutuações cambiais e incertezas econômicas globais podem impactar o fluxo de turistas internacionais e os preços dos serviços.
7. Gestão de talentos
- Tecnologia da Informação: A atração e retenção de talentos em TI são críticas, dado o alto nível de competição por profissionais qualificados nesse setor.
- Educação: Instituições de ensino precisam desenvolver programas e currículos que acompanhem as mudanças tecnológicas e do mercado de trabalho para atrair estudantes.
8. Foco em experiência do cliente
- Setor Bancário: A digitalização dos serviços bancários e a necessidade de oferecer uma experiência de usuário superior são essenciais para manter a fidelidade dos clientes.
- E-commerce: A expectativa dos clientes por entregas rápidas e serviço ao cliente eficiente requer investimentos em logística e tecnologias de atendimento.
Esses exemplos demonstram que os riscos identificados no estudo não se limitam a um único grupo ou setor, mas são amplamente aplicáveis a diversas áreas da economia brasileira, independente do tamanho da organização. Essa realidade exige uma gestão de riscos adaptativa e proativa para todas as empresas, independentemente do seu setor de atuação.